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22 de mar. de 2025

O AMOR E O TEMPO – Pedro Luso de Carvalho

 

Porto Alegre - RS / Brasil



O AMOR E O TEMPO

              – Pedro Luso de Carvalho



A calma volta a reinar,

está mais fácil viver,

roda gira sem parar

na desalinhada estrada.


Passaram todas as dores,

passaram noites insones,

mas ainda tens os cabelos,

cabelos brancos de neve.


Era triste sombra o amor,

na tarde que ela partiu,

sombria tarde da partida,

levando mágoas e dor.


Já nada vale o passado,

essa ferrugem do tempo,

a tua mulher foi embora,

mas ainda tens um amigo.




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13 de mar. de 2025

VIVÊNCIAS – Pedro Luso de Carvalho

 

CAMINHOS



VIVÊNCIAS 

        Pedro Luso de Carvalho



A tarde ainda estava clara,

com o sol morno de outono.

Os jovens diante do velho,

no entusiasmo do saber.



Há segredo para o êxito,

fala o velho à plateia.

Lancem semente na terra,

sem temer a ventania.



Mais queremos aprender,

diz um dos jovens ao velho.

Sigam nas noites escuras,

o brilho dos pirilampos.



Mais tenho para ensinar:

são faróis as suas mentes,

mentes repletas de luz,

luz do sol ao meio-dia.





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5 de mar. de 2025

FEMINICÍDIO - Pedro Luso de Carvalho

 

As três Marias



FEMINICÍDIO

      – Pedro Luso de Carvalho



Ponha-se de pé o réu,

a ordem é obedecida,

o juiz lê a sentença,

resto da vida no cárcere.


Vozes na Sala do Júri,

aflição e dor na sala,

logo agônico silêncio,

som das algemas na sala.


O juiz sai cabisbaixo,

aceno cortês aos guardas,

respira fundo o juiz,

pensa nas dores do mundo.


Morta pelo companheiro,

ela foi dor e saudade,

hoje uma estrela no céu,

ao lado das Três Marias.




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18 de fev. de 2025

SOLIDÃO - Pedro Luso de Carvalho

 



       SOLIDÃO

              Pedro Luso de Carvalho




Vi no banco um homem marcado,

a marca do tempo a que foi enredado,

pensativo junto ao mar.



Do mar, os afagos do sol,

doce cantar do rouxinol,

solidão para afugentar.



Expectante olhar, sem remonte,

para ver além do horizonte

um feito para se orgulhar.



Cruel tempo apaga o fulgor,

do brilho não mais vai dispor.

Ninguém virá para chorar.





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7 de fev. de 2025

COFRES E LADRÕES - Pedro Luso de Carvalho

 

The Skat Players, 1920. Otto Dix.




                                      COFRES  E  LADRÕES

                  - Pedro Luso de Carvalho




Feche bem essa porta, meu filho,

há muitos ladrões lá fora.

Feche bem essa porta, meu filho,

se entrarem nada sobrará

do que temos.

(Ratos vêm roer nossos pés.)



Sabe onde se escondem os ladrões

dos nossos cofres, meu filho?

Escondem-se em palácios forrados,

tapetes dourados tecidos em ouro

e prata, embriagados pelo poder.



Mas logo tudo passará, meu filho,

essas bocas ilustres dos ladrões

de fala fácil, enganosa fala,

não mais terão o que dizer.



Ouve o vento bater na janela,

meu filho, ouve o suave vento

de harpa tangida, nosso alento,

único discurso para ouvirmos.





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27 de jan. de 2025

MEU CAMINHO – Pedro Luso de Carvalho

 




           MEU CAMINHO

                                - Pedro Luso de Carvalho




Pudesse escolher meu caminho

outro caminho trilharia –

sem ter culpa para expiar.



Resigno-me com minha estrada,

aceito o travo de amargura,

pois pode haver um renascer.



Há transtornos em meu caminho,

conflitos nas encruzilhadas,

tempo de andar e de parar.



Fino-me um pouco nesse andar,

há sempre perigo nas curvas,

facas e punhais na neblina.



Quando não tiver mais caminho,

quem guardará o som de bronze

desses passos, desse meu andar?





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16 de jan. de 2025

AS MÃOS - Pedro Luso de Carvalho

 



 AS MÃOS

   - Pedro Luso de Carvalho



Eu vi meu pai, as longas mãos,

uma mão sobre a outra, unidas

mãos vistas por outros órfãos,

nas doídas despedidas.



Faz-se presente esse dia,

o tempo mora na memória, 

suas mãos não mais veria,

acabara a luta inglória.



Da infância, recordação

dos perigos protegido,

conduzido pela mão

daquele pai tão aguerrido.



Lembro ter pousado as mãos

sobre as duas águias frias,

eram iguais nossas mãos.

Não sinto estas mãos vazias.




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4 de jan. de 2025

A ALMA DO HOMEM - Pedro Luso de Carvalho

 




     A  ALMA  DO  HOMEM

                         Pedro Luso de Carvalho




Sobre a cama o corpo frágil,

não mais o corpo forte e ágil,

do tempo vítima.



Na desordem do quarto, o ágio,

mas vem raios de luz, apanágio,

numa paz legítima.



Havia um plano para a noite,

para o mortal plano, o açoite

ao homem implica.



Esperança do homem feneceu,

forças findas na noite, no breu.

Morre, a alma fica.




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10 de dez. de 2024

RETRATO DO ANO VELHO - Pedro Luso de Carvalho

 

Usina do Gasômetro - Porto Alegre / Brasil
                                    



RETRATO DO ANO VELHO

        - Pedro Luso de Carvalho



Dois mil e vinte quatro,

e mais um ano na roda,

na interminável roda,

roda do impiedoso tempo.


Dois mil e vinte quatro,

ano com vários matizes,

matiz para cada povo,

entre lágrimas e risos.


Dois mil e vinte quatro,

enchentes e sofrimento

para este povo gaúcho,

árdua luta pela vida.


Dois mil e vinte quatro,

um ano para esquecer

e também para lembrar,

de tantas vidas perdidas.




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25 de nov. de 2024

DISFARCE – Pedro Luso de Carvalho


   Acervo Pessoal  Juarez Machado / Brasil  - Das Artes


DISFARCE

                                   –  Pedro Luso de Carvalho



Pode ser disfarce o sorriso,

maldade oculta nos lábios,

sentimento que não se vê,

um brilho de punhal no breu.


Pode ser disfarce o sorriso,

nos lábios veneno mortal,

veneno por trás do sorriso,

certeza da presa abatida.


Pode ser disfarce o sorriso,

a pantera solta na mata,

um brilho nos dentes da fera,

sem ter no sorriso a maldade.


Pode ser disfarce o sorriso,

por isso tenha os cuidados,

sorriso falso e fugaz

não segue, fica para trás.



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15 de nov. de 2024

TARDES DE PORTO ALEGRE – Pedro Luso de Carvalho


Porto Alegre - Rio Grande do Sul / Brasil



TARDES DE PORTO ALEGRE

              – Pedro Luso de Carvalho



A cidade de Porto Alegre,

vivendo tempos difíceis,

parece jovem faceira,

mostrando sua beleza.


Assim os porto-alegrenses

vivem na sua cidade,

qual jovens apaixonados,

por suas ruas e praças.


Esta a Porto Alegre amada,

Porto dos Casais antiga,

dos povos açorianos,

hoje outros povos juntos.


A jovem Porto Alegre

está em reconstrução,

brilho do sol no Guaíba,

com suas águas serenas.


Nossa cidade é lágrima,

é emoção pela ajuda,

pela solidariedade,

força dos braços amigos.



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 Elton Saldanha - Eu sou do Sul - Rio Grande do Sul / Brasil



29 de out. de 2024

ASSIM É A VIDA - Pedro Luso de Carvalho

 

Brincadeiras / Cândido Portinari



ASSIM É A VIDA

        - Pedro Luso de Carvalho



Um oceano de saudade,

triste náufrago que sou,

nesse naufrágio do tempo,

tempo de sonhos perdidos.


Pode ser bom meu presente,

tudo pode estar em ordem,

a mesa pode estar posta,

mas não está o menino.


Como compreender a vida,

realizei todos os planos,

sonho e realidade juntos.

Por que voltar à infância?


Assim a roda da vida,

a criança quer crescer,

quer jogar como Pelé,

Velho, quer voltar no tempo.




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11 de out. de 2024

VOZES DO VENTO - Pedro Luso de Carvalho

 



    VOZES DO VENTO

                     – Pedro Luso de Carvalho



Vento na cumeeira da casa,

amedronta esse vento zunindo,

vento forte vindo das lonjuras,

e vem com novas para contar.


Conte-me o que tens para contar,

conte-me tudo o que sabes vento,

que não fique nada por contar,

essa a missão do mensageiro.


De tudo que viu falou o vento,

falou da calma no Continente,

a não ser um país extraviado,

a Venezuela aqui na fronteira.


O que sabes do nosso Brasil?

Diga agora o que sabes vento.

Sem responder o vento partiu,

saiu zunindo de volta ao sul.




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28 de set. de 2024

O POEMA DE HOJE – Pedro Luso de Carvalho

                                           

Os Retirantes 1944 - Cândido Portinari / MASP


O POEMA DE HOJE

      - Pedro Luso de Carvalho



Este poema será duro,

ele vem de ruas escuras,

ele vem de fétidas ruas,

onde perambulam famintos.


De casebres vem o poema,

chão pontilhado de luar,

luar no rosto da criança,

a fome esculpida no corpo.


Vem dos charcos este poema,

do crime não investigado,

cadáveres não sepultados,

na vala comum esquecidos.


Da renúncia vem o poema,

renúncia à luta travada,

pois o mal é maior que o bem.

Valerá vintém o poema?




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