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15 de jun. de 2025

UMA PALAVRA AMIGA – Pedro Luso de Carvalho

 

Praça da Matriz - Porto Alegre RS / Brasil




UMA PALAVRA AMIGA

       - Pedro Luso de Carvalho



Havia garoa na tarde,

a praça estava deserta,

vi gente no outro olhar,

era um homem solitário.


A tarde entrava na noite,

eu vi dor no rosto do homem,

rosto escondido nas mãos,

mãos trêmulas de emoção.


Resolvi parar para ver,

e vi sofrimento do homem,

que me falou em suicídio,

que me falou na sua dor.


Disse-lhe que todos sofrem,

não se vive no paraíso,

pois o mundo é um moinho,

como Cartola ensinava.


Então o homem se refez,

agradeceu-me e saiu,

saiu dali apressado,

tinha a vida pela frente




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8 de jun. de 2025

O TEMPO PERDIDO – Pedro Luso de Carvalho

 




O TEMPO PERDIDO

             Pedro Luso de Carvalho



Sei bem o que é tempo perdido,

tempo perdido pela pressa,

por querer o horizonte perto,

ambição e ansiedade juntas.


Que não haja mais tanta pressa,

que se viva mais o presente,

em convívio com os amigos.

Passado e futuro estão longe.


Faça-se o que deve ser feito,

sempre com os pés no presente,

sem aflições com o passado,

e sem os anseios do futuro.


Então cuidado com o tempo,

e não busque o tempo perdido,

já que hoje muita vida pulsa,

e com projetos por terminar.




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1 de jun. de 2025

O TEMPO E A VIDA – Pedro Luso de Carvalho

 



O TEMPO E A VIDA

  – Pedro Luso de Carvalho



Há nuvens espessas na tarde,

nesta tarde fria de outono,

outono quase no final,

sinal de inverno rigoroso.


Alcei voo com meus pensamentos,

e também com as minhas dúvidas,

dúvidas que me perseguem,

dúvidas sobre o tempo e a vida.


O tempo é um grande relógio,

relógio que anda sem parar,

ao passo que a vida é máquina,

máquina que enferruja e para.


Mas saber tudo isso é pouco,

queria ver este casamento,

enlace entre o tempo e a vida,

então a vida não pararia.




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25 de mai. de 2025

O GOLEIRO – Pedro Luso de Carvalho

 

                                                                             



O GOLEIRO

                                     Pedro Luso de Carvalho



Quem se lembra dele no gol,

no espaço próprio do goleiro,

com seus olhos fixos na bola,

quando rolava no gramado.


Goleiro, sonho de menino,

menino da periferia,

que se fez goleiro na várzea,

em campo de terra batida.


As vozes ecoavam no campo,

e a bola rolava na grama.

O drible e o chute vieram,

para defesa inesquecível.


O seu time foi campeão,

aplausos logo vieram,

aplausos ao goleiro herói,

herói no campo e na vida.




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18 de mai. de 2025

MENINOS DE RUA – Pedro Luso de Carvalho

 



     MENINOS DE RUA

               – Pedro Luso de Carvalho



Esses meninos vivem na rua,

andam sem rumo pela cidade,

mas na escola, eles não estão,

eles estão onde o vício está.


Os meninos andam por aí,

têm nas mãos o mapa da cidade,

conhecem ruas, praças e becos,

sabem onde a miséria está.


Os meninos andam na cidade,

e vão desvendando seus segredos.

Esses meninos domem na rua,

dormem sob viadutos e marquises.


A morte ronda esses meninos,

que chega no silêncio da noite.

O menino morre ali no chão,

simplesmente um dado estatístico.




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9 de mai. de 2025

LAMPIÕES DE GÁS – Pedro Luso de Carvalho

 




LAMPIÕES DE GÁS

       – Pedro Luso de Carvalho



Eu não estou satisfeito,

nuvens escondem o sol

e as crianças famintas,

nesta nebulosa tarde.


Eu não estou satisfeito,

nuvens espessas no mundo,

neste tempo de maldade,

tempo de morte nas guerras.


Eu não estou satisfeito,

há crepúsculo no céu,

roubam os aposentados,

dependentes são roubados.


Eu não estou satisfeito,

aqui não quero viver,

quero viver no passado

sob lampiões de gás.


Agora estou satisfeito,

pois aqui não há ladrões.

Doce vida do passado,

sob luzes dos lampiões.




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30 de abr. de 2025

O VELHO BAÚ – Pedro Luso de Carvalho

 



O VELHO BAÚ

           – Pedro Luso de Carvalho



O velho baú de ipê,

que guarda coisas inúteis,

é prisioneiro da sala,

no seu silêncio de pedra.


Abro o velho baú,

pego o álbum do fundo,

o velho álbum de fotos,

fragmentos do que vivi.


Vejo as marcas do tempo,

no velho álbum guardadas.

Vejo tudo do meu jeito,

com inexpressivo olhar.


As tais fotos nada dizem,

hoje sou outra pessoa,

não a pessoa das fotos,

sou quem o espelho reflete.





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22 de abr. de 2025

A HISTÓRICA CASA – Pedro Luso de Carvalho

 



A  HISTÓRICA  CASA

               – Pedro Luso de Carvalho



Aqui estou diante da casa,

diante da casa vazia,

a velha casa de séculos,

de imponente construção.


Aciono a chave da porta,

logo sinto o mofo no ar,

abro todas as janelas,

para a festa do vento.


Vento que aviva história,

no retorno do passado,

alguns juízes e políticos,

os senhores de destinos.


Faz escuro quando saio,

é noite de lua cheia,

é noite de assombração,

na casa zunem punhais.




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11 de abr. de 2025

NOITE DE LUZ – Pedro Luso de Carvalho

                                                                             

     


  

NOITE DE LUZ 

                         – Pedro Luso de Carvalho



Na escuridão desta noite,

a lua brilha no céu,

no céu brilham as estrelas,

no espetáculo de luzes.


Exibição luminosa,

da garbosa Natureza,

suas estrelas e a lua

desfilam na passarela.


Na claridade da noite,

vejo longe as Três Marias,

vejo o Cruzeiro do Sul,

os faróis dos navegantes.


Deste festival dos astros,

guardarei as suas luzes,

para os dias nebulosos,

que certamente virão.




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30 de mar. de 2025

MUNDO SEM HONRA - Pedro Luso de Carvalho

 



MUNDO SEM HONRA

              – Pedro Luso de Carvalho



É neste mundo que vivo,

nele conheço as mazelas,

sei quem delas é cativo,

vida honrada é balela.


É neste mundo que vivo,

noutro mundo não vivi,

parece definitivo,

topázio não é rubi.


É neste mundo que vivo,

mas outro deveria ser,

já que faz mal o convívio,

as feridas podem doer.


É neste mundo que vivo,

em meio a tanta maldade,

onde o mal é sucessivo,

e ladrão é majestade.




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22 de mar. de 2025

O AMOR E O TEMPO – Pedro Luso de Carvalho

 

Porto Alegre - RS / Brasil



O AMOR E O TEMPO

              – Pedro Luso de Carvalho



A calma volta a reinar,

está mais fácil viver,

roda gira sem parar

na desalinhada estrada.


Passaram todas as dores,

passaram noites insones,

mas ainda tens os cabelos,

cabelos brancos de neve.


Era triste sombra o amor,

na tarde que ela partiu,

sombria tarde da partida,

levando mágoas e dor.


Já nada vale o passado,

essa ferrugem do tempo,

a tua mulher foi embora,

mas ainda tens um amigo.




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13 de mar. de 2025

VIVÊNCIAS – Pedro Luso de Carvalho

 

CAMINHOS



VIVÊNCIAS 

        Pedro Luso de Carvalho



A tarde ainda estava clara,

com o sol morno de outono.

Os jovens diante do velho,

no entusiasmo do saber.



Há segredo para o êxito,

fala o velho à plateia.

Lancem semente na terra,

sem temer a ventania.



Mais queremos aprender,

diz um dos jovens ao velho.

Sigam nas noites escuras,

o brilho dos pirilampos.



Mais tenho para ensinar:

são faróis as suas mentes,

mentes repletas de luz,

luz do sol ao meio-dia.





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5 de mar. de 2025

FEMINICÍDIO - Pedro Luso de Carvalho

 

As três Marias



FEMINICÍDIO

      – Pedro Luso de Carvalho



Ponha-se de pé o réu,

a ordem é obedecida,

o juiz lê a sentença,

resto da vida no cárcere.


Vozes na Sala do Júri,

aflição e dor na sala,

logo agônico silêncio,

som das algemas na sala.


O juiz sai cabisbaixo,

aceno cortês aos guardas,

respira fundo o juiz,

pensa nas dores do mundo.


Morta pelo companheiro,

ela foi dor e saudade,

hoje uma estrela no céu,

ao lado das Três Marias.




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18 de fev. de 2025

SOLIDÃO - Pedro Luso de Carvalho

 



       SOLIDÃO

              Pedro Luso de Carvalho




Vi no banco um homem marcado,

a marca do tempo a que foi enredado,

pensativo junto ao mar.



Do mar, os afagos do sol,

doce cantar do rouxinol,

solidão para afugentar.



Expectante olhar, sem remonte,

para ver além do horizonte

um feito para se orgulhar.



Cruel tempo apaga o fulgor,

do brilho não mais vai dispor.

Ninguém virá para chorar.





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7 de fev. de 2025

COFRES E LADRÕES - Pedro Luso de Carvalho

 

The Skat Players, 1920. Otto Dix.




                                      COFRES  E  LADRÕES

                  - Pedro Luso de Carvalho




Feche bem essa porta, meu filho,

há muitos ladrões lá fora.

Feche bem essa porta, meu filho,

se entrarem nada sobrará

do que temos.

(Ratos vêm roer nossos pés.)



Sabe onde se escondem os ladrões

dos nossos cofres, meu filho?

Escondem-se em palácios forrados,

tapetes dourados tecidos em ouro

e prata, embriagados pelo poder.



Mas logo tudo passará, meu filho,

essas bocas ilustres dos ladrões

de fala fácil, enganosa fala,

não mais terão o que dizer.



Ouve o vento bater na janela,

meu filho, ouve o suave vento

de harpa tangida, nosso alento,

único discurso para ouvirmos.





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